Quando vi o depoimento de Carlos Eugênio Paz na novela Amor e Revolução do SBT fiquei impressionado com a sua sinceridade. Ele contou com detalhes como "justiçou" Henry Boilesen: empresário dinamarquês que financiava a tortura no Brasil. (Para saber mais sobre isso veja o documentário Cidadão Boilesen). Fui saber mais sobre ele e descobri seu livro Viagem à luta armada. O livro é uma grande contribuição histórica, pois Carlos Eugênio é um dos poucos que conheceu várias organizações da esquerda armada; participou de inúmeras ações e ficou vivo para contar a história. Como Franklin Martins diz no prefácio: recomenda-se afivelar os cintos.
Foi só o ex-guerrilheiro da ALN, Carlos Eugênio Paz, contar em depoimento na novela Amor e Revolução que tinha assassinado o empresário Henry Boilesen (presidente da Ultragás que financiava a tortura no Brasil) que a extrema-direita, representada pelos blogueiros da VEJA, ficou em polvorosa. E para destruir a reputação da Esquerda Armada lembrou de um episódio polêmico ocorrido em março de 1971: o justiçamento de Márcio Leite de Toledo. O fato é verdadeiro, ele foi morto por Carlos Eugênio depois que num tribunal revolucionário os militantes da ALN decidiram executá-lo por suspeita de traição. Como esse blogue foi criado para limpar o esgoto que os militares de pijama e os neo-reaças espalham pela internet, vou postar abaixo opiniões diferentes sobre o assassinato e um vídeo com a entrevista do irmão de Márcio Toledo. Que nossos leitores tirem suas próprias conclusões.
Reproduzo mais um trecho do livro Viagem à luta armada. Nesta parte do livro Carlos Eugênio está no seu apartamento no exílio em Paris, deitado numa banheira e entorpecido por drogas, que não curam, lógico, mas ajudam a aliviar a dor das lembranças sombrias: das vidas que se perderam na guerrilha que fracassou, da revolução perdida. Ele se lembra da intenção de fugir para Cuba para escapar do serviço militar e da despedida do pai. Ao ler este trecho fico pensando em quantas pessoas neste breve, louco e já tão distante século XX tiveram que fazer a mesma despedida: soldados vermelhos na Rússia; Partisans na Itália; Espartaquistas na Alemanha; todos tiveram que deixar suas famílias, seus entes queridos. Pois a partir dali suas vidas seriam em prol da revolução e nada mais importava a não ser a luta por uma sociedade melhor.
Um escritório próximo à Cinelândia, a pouquíssimos metros do Theatro que foi palco do discurso oco de Barack Obama, tem sido o local das reuniões de pauta do jornal online "Rede Democrática". Na noite de sexta-feira, 25 de Março, tive a felicidade de participar dessa reunião e, em seguida, de entrevistar um de seus membros: Carlos Eugênio Paz, mas podem chamar de Comandante "Clemente". Entrou para a ALN (Ação Libertadora Nacional), quando esta ainda era o chamado "Grupo Marighela" do Partido Comunista. Era um jovem de 16 anos, o ano era 1966 e a ditadura brasileira estava no "olho do furacão", como definiu, dizendo que talvez isso tenha contribuído pra sua sobrevivência, além de, principalmente, a lealdade de seus companheiros.
Reproduzo hoje mais uma parte do livro Viagem à luta armada de Carlos Eugênio Paz: último comandante da ALN vivo. Nesse trecho ele relembra um de seus conflitos com a repressão. Através de suas memórias, podemos conhecer um pouco das histórias de luta desses brasileiros, que arriscaram suas vidas para tornar nosso país um lugar mais justo.
Bacuri (codinome Rafael) era um dos guerrilheiros mais "façanhudos", chegando inclusive à passar por um barreira policial abrindo caminho à bala. Foi um dos militantes que participaram do sequestro do embaixador alemão. Sua morte na tortura foi uma das mais cruéis e se tornou símbolo do terror da repressão militar. Nesse trecho do livro Viagem à Luta Armada Carlos Eugênio Paz conta como Bacuri, através de telefonemas ameaçadores para o DOICODI, conseguiu libertar sua mulher Letícia, que estava grávida. Que as novas gerações conheçam a história de Eduardo Colem Leite, o Bacuri.